segunda-feira, 3 de maio de 2010

Rezadeira


Meu amigo feicebukiano João Barbosa, escreveu sobre a greve das rezadeiras.
Fui lá, e respondi com uma lembrança tão forte, que resolvi trazê-la mais completa pra minhas notas.

Isso me lembra um caso acontecido em Rio Bonito(cidade de minha mãe)
Tínhamos um sítio na subida da Caixa D’agua, um lugar lindo, onde ficava a fonte que abastecia toda Rio Bonito.
Era uma cidade feita de igreja+coreto+praça, onde íamos passar as férias.
Do lado de casa, um campinho de futebol, onde eu jogava com os meninos, e estimulava as garotas pra entrar na brincadeira. Numa dessa, eu caí e fiquei com uma dor nas costas terrível!
Uma vizinha pediu pra que eu estendesse os braços com as mãos em prece. Então, sentenciou: - Braço maior que o outro.Tá com espinhela caída. Leva pra Luizinha rezar.
Eu tinha treze anos, e cismaram que eu estava c/ espinhela caída.
Para tudo. O que seria isso?
Não deu tempo de saber, só de ir...
Fui.
Dona Luizinha rezou com folhas de arruda(que eu não curto o cheiro até hoje...)Quando acabou, eu me levantei e agradeci. Ela deu um grito, bateu com o pé no chão, amarrou a cara e disse entre dentes: - menina danada! Não se agradece benzeção. Vai ter que fazer tudo de novo, diacho!
Olhos arregalados, não sei se de medo ou indignação, vi a senhora retomar seus apetrechos de reza, terço, folhas de guiné e arruda, e com cara zangada, proferir as palavras:
“Te curo de carne quebrada, torna te a soldar.
Nervo torto torna a seu lugar.
Nervo que retorceste, Deus que te põe onde nasceste.
Eu que te benzo. Deus que te sare.
Onde eu ponho as minhas mãos, Nossa Senhora dá santidade.
Deus queira curar esta quebradura,
esta rendidura que esse pobre enfermo tem.
Seja pelo amor de Deus, seja tudo. Amém.”

Saí muda, deslizando feito cobra assustada. Dor nas costas? Nem pensar.
(Irinéa MRibeiro)

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixe seu comentário!